AFINAL, PARA QUE SERVE UMA RELAÇÃO?

12/06/2015 09:57

Afinal, para que serve uma relação?

Suely Pavan Zanella

Um drama bastante comum nos consultórios psicoterápicos é a dificuldade de encontrar um relacionamento. As mulheres dizem que não há homens disponíveis no mercado, e os homens dizem o mesmo. O que parece haver é um enorme desencontro. Às vezes na vida as pessoas se esbarram, mas, normalmente por medo não engatam um relacionamento.  Então, os tempos atuais são marcados, digamos, por pessoas de costas, e que jamais se encontram. O que verifiquei na maioria dos casos é que estas pessoas querem encontrar relacionamentos em locais específicos, como por exemplo, baladas. Costumo dizer que homens e mulheres são encontrados em todo e qualquer lugar, basta estar disponível. Pessoas podem se encontrar nos pontos de ônibus, no supermercado, no trabalho e até em batidas de carro. Hoje muita gente se esconde através da Internet. E são inúmeros os casos de pessoas que dizem namorar com gente que nunca viu, pois apenas se escreve, e sabe-se que este tipo de pseudocomunicação não é verdadeira. Flora Davis a maior especialista em comunicação não verbal dizia que nem ao telefone nos comunicamos, já que para tal é preciso inteireza, ou seja, o outro precisa estar inteiro à nossa frente. Óbvio que podemos conhecer alguém bacana pela Internet, mas é preciso sair deste meio mental de informação (e não de comunicação) para ao menos checar se esta pessoa é digna de nosso amor ou não.

Recebi pacientes que se acomodaram na Internet e vivem numa espécie de mundo da lua, ou fantasia.

Outros, ao contrário, estão metidos em relacionamentos ruins, abusivos e que minam a sua autoestima diariamente. Buscam a terapia para “salvar” esta relação a todo o custo, mesmo quando o parceiro ou parceira em nada contribui. São relações onde um se acomoda na relação, e o outro busca salvação.    

Relações, só para início de conversa, são constituídas de no mínimo duas pessoas. E por mais, por exemplo, que as revistas femininas insistam em receitas para apimentar, ou incrementar o relacionamento isso na maioria dos casos não funciona. Para viver um relacionamento de qualquer tipo é preciso um esforço de vontade de ambas as partes, e não apenas de uma. Nesse sentido, pela minha experiência profissional, as mulheres buscam salvar relações ruins, enquanto os homens se acomodam convenientemente nelas. Este binômio é a receita certa da infelicidade.

Há gente casada que se casou com a entidade casamento, e não com a pessoa que escolheu (a maioria já se esquecei deste fato) para compartilhar a vida. Muitas vezes, principalmente em psicoterapia de casal, é preciso reviver por qual razão estas pessoas escolheram ficar juntas.

Claro, que as relações mudam com o passar do tempo, e é preciso ajustes e leitura clara da realidade. Tem gente, por exemplo, que quer manter a chama inicial da paixão acessa a todo custo, mesmo que seja falsa. <A paixão é o limite da impossibilidade>, dizia o psiquiatra Paulo Gaudêncio. O amor, ao contrário, já é mais morno, porém tranquilo. A paixão é uma mistura de inquietude, de dúvida, de alta ansiedade. Há pessoas que gostam apenas de se apaixonar, em função desta adrenalina constante, os infiéis sabem bem disso. Enquanto outros estão aptos para um relacionamento amoroso, e são amáveis, dignos de amor. Eles querem amar, mas também ser amados.

Por mais que a palavra “amor” seja impregnada de significados estratosféricos e impalpáveis ele é bem concreto. E também seu expressar não deveria ser tão banalizado como é hoje, em que se fala “eu te amo” a torto e a direito, e também para qualquer um, tal como ocorrem em filmes americanos. Esta forma plástica e falsa de expressar o amor verbalmente faz mais mal do que bem, já que deteriora as relações. Amor precisa ser sentido, verdadeiramente, para que o outro lhe dê o mínimo crédito, mas principalmente precisa ser coerente com as ações que se pratica. O verdadeiro amor em um relacionamento se expressa unicamente em atos. Amar é ter ação correspondente. Em resumo amar é ação.

E que tipo de ação é esta?

Então, voltemos ao título deste artigo: Afinal, para que serve uma relação?

Em uma entrevista para a Revista Marie Claire no ano de 2003 o médico Drauzio Varella definiu brilhantemente para que serve uma relação. Propositalmente deixarei a definição dele em negrito e caixa alta. Lá vai:

- UMA RELAÇÃO TEM QUE SERVIR PARA TORNAR A VIDA MAIS FÁCIL”.

Portanto, se uma relação é um fardo a se carregar; se acarreta mais danos do que prazer; se complica a vida, ao invés de facilitá-la, há algo de muito errado com ela.

Amor não é igual a filmes, novelas e literatura em geral, onde se mostra gente sofrida sempre atrás de um relacionamento difícil ou complicado. Lembre-se, isso é paixão.

A ação amorosa, portanto, em que apenas seres amáveis e não egoístas são capazes de fazer durar, se calca justamente em tornar a vida do outro mais fácil. E é claro, que a recíproca deve e tem que ser verdadeira.

Há alguns anos vi uma matéria na TV que mostrava casais idosos e felizes. A repórter perguntou como eles conseguiam manter a relação, e lembro-me bem de um senhor que saia bem cedo de casa para comprar pão fresquinho para a esposa. O motivo: <Ela gosta> respondeu ele alegremente. E ela em contrapartida adorava cortar as unhas do pé dele, porque ele adorava.

As expressões do amor verdadeiro são simples, nada pirotécnicas. É fazer com alegria (e não de forma forçada ou mecânica) aquilo que traz satisfação e não mágoas para o outro.

Quem se esquece de tudo, não percebe que magoa, e nunca se esforça para olhar e entender o outro pode ser tudo, mas é incapaz de levar um relacionamento amoroso adiante.

Portanto, tanto faz se você é casado ou solteiro, o mais importante é perceber se você está apto a amar. Egoístas caminham bem sozinhos e normalmente são um fardo na vida dos seres amorosos e gentis.