Criar Filhos é Diferente de Ter Filhos

23/03/2015 09:42

Criar filhos é diferente de ter filhos

 

Embora o título desta mensagem pareça óbvio, na vida prática e contemporânea ele se mostra muito diferente. Há mais gente do que se imagina achando que basta ter um filho para que ele se autocrie. Criação, lembremos, tem a ver com o ato de educar. E não é nada fácil criar um filho. E posso dizer que muitos pais e mães, mesmo que briguem pela guarda de uma criança, estão pouco ou quase nada preparados para o exercício da maternidade e da paternidade. A coisa anda tão ruim que já vi gente dizendo que deveria haver um curso de formação para pais e mães. Hoje, infelizmente, a maioria ainda quer ter filhos, só que não sabe exatamente para quê.

O sábio Chico Anísio há muitos anos teve um quadro muito bom no Fantástico, em que refletia sobre questões importantes da vida. Num domingo em que se comemorava o dia das mães Chico fez a seguinte pergunta: Para quê você quer ter um filho?

Se for por necessidade, dizia ele, como para preencher um vazio não tenha um filho, compre um cachorro. Filho não deve vir ao mundo para fazer companhia, ou preencher uma lacuna. Filho, ele complementava, precisa de amor, e de cuidados, mesmo que você seja muito pobre.

E Chico tinha razão. O ato de amar verdadeiramente alguém se reflete nos cuidados que temos com essa pessoa. Não adianta dizer a torto e a direito para o filho, como vemos nos filmes americanos “Eu te amo”, se não demonstramos este amor através dos cuidados que damos a este filho.

E cuidar não significa paparicar e nem mimar. No mundo de hoje, em que pais e mães parecem sempre ocupados é comum ver-se as seguintes cenas:

- Crianças que falam sem que ninguém as ouça;

- Adolescentes saindo por aí, sem que os pais se preocupem ou se julguem no direito de perguntar aonde vão e com quem;

- Crianças e adolescentes absolutamente solitários, mas munidos de diversos presentes dados pelos pais: bonecas; celulares; jogos; IPads;

- Crianças negligenciadas, visivelmente mal tratadas. Que não recebem os remédios na hora certa quando estão doentes; Que são tratadas e cuidadas apenas nas escolas onde estudam, como se escolas e creches fossem depósitos de crianças, em que os pais ocupados ou focados apenas em suas necessidades, apenas as deixassem lá; Aumento absurdo de crianças esquecidas e mortas dentro de carros, cujos pais mudaram a rotina ou vivem com a cabeça focada no trabalho; crianças sem banho ou mal alimentadas;

- Crianças que vivem toda a sorte de violência a começar da verbal e depois a psicológica, e que vivem a ser insultadas em função das frustrações de seus pais;

- Crianças e adolescentes que estão imersos num mundo assustador de gente que não se entende, que briga, ou bebe ou se droga;

- Adolescentes que à tarde presenciam nas Tvs pagas filmes em que adolescentes e jovens vão a festas, bebem muito, usam drogas, e se divertem. E começam a entender, erroneamente, que isto é normal e típico da adolescência;

- Crianças que são usadas como um troféu na disputa entre os pais nos casos de separação;

- Crianças e adolescentes tristes que desde pequenos são incentivados a estudar e pensar apenas em sua carreira profissional, como se a vida se resumisse apenas ao trabalho.

Enfim, ter um filho qualquer um pode ter, basta ter o aparelho reprodutor em ordem, e este fato apenas depende da biologia. Agora, cuidar de uma criança é tarefa que compete aos amorosos e comprometidos, é missão que nada tem a ver com a biologia, mas sim com a capacidade afetiva e com o caráter de cada um. Famílias, a meu ver, deveriam ser sinônimos de amor, de ninhos e não de nós. De vínculos afetivos e não só de sangue.

Suely Pavan Zanella