SUICÍDIO FILMADO E COMPARTILHADO ou A Morte como Espetáculo
SUICÍDIO FILMADO E COMPARTILHADO
“...Ela se jogou da janela do quinto andar
Nada é fácil de entender.
Dorme agora:
É só o vento lá fora...”
Autoria: Renato Russo , Marcelo Bonfá , Dado Villa-Lobos
Beatriz, tal como a música interpretada por Renato Russo, se jogou da sacada do quinto andar do apartamento onde morava em Balneário de Camboriú (S.C.). Antes ela dançou, fez piruetas, sentou-se na varanda, e por fim se atirou, embora parecesse voar. Ela estava nua, e talvez por esta razão tenha sido filmada por um internauta que após a sua morte divulgou o vídeo. Ele ou ela a filma num silêncio total que chega a ser assustador. Em nenhum momento se ouve um grito de desespero humano, mesmo que ela não o conseguisse ouvir, já que os prédios eram relativamente distantes. Em nenhum momento também se percebe que ele ou ela larga o celular que usou para filmar e chama ajuda. Ele ou ela simplesmente filma seus últimos momentos. Beatriz também é fotografada nua caída na rua, antes que um rapaz a cobrisse. Quem é ela ou por qual razão fez isso, não se sabe. Há algumas especulações ou espetacularizações. Alguns dizem que ela tinha depressão e outros que usou LSD horas antes em uma festa. O que vale mesmo, não são os motivos, mas a imagem que coisifica o humano. É essa imagem em vídeo ou foto que mobiliza e é compartilhada por milhares de pessoas. Toda a vez que por acaso (como foi o caso da Beatriz) eu tomo conhecimento de fotos ou vídeos assim e vejo sua amplitude e alto grau de compartilhamento me pergunto: Por qual razão a morbidez supera o humano?
Vejo que cada vez mais há pessoas que tem prazer em filmar e fotografar acidentes e mortes trágicas, sem se importar com a dignidade da vítima. Mesmo morto, dilacerado, aquilo que vemos estendido no chão ainda é um ser humano. Não um pedaço de carne fotografável ou filmável. E a preferência normalmente se dá quando estas filmagens são repletas de sangue ou vísceras. Lembro-me de uma foto que vi de uma moça que se atirou de um prédio nos E.U.A. Na foto dela morta vê-se uma moça dormindo. A foto é linda, e nas matérias dos jornais americanos da época se falava sobre ela, e o motivo de sua morte: em sua bolsa foi encontrado um bilhete do namorado que a dispensara.
Ou seja, uma diferença absurda entre o que relato aqui sobre a morte da Beatriz, em que apenas a imagem vira notícia, sem contar os comentários escabrosos que se lê de pessoas achando normalíssimo o comportamento frio daquele que a filmou. Às vezes tenho mesmo a impressão que a Internet abriu as portas do inferno (no sentido figurado é claro) e deu a oportunidade para que pessoas mórbidas e sádicas compartilhassem de seus desvarios. Uma pena!
Esse comportamento de filmar ou fotografar não ocorre apenas nos casos de suicídio. Como bem exemplifica a foto a seguir!
A morte virou mais um espetáculo. Muito triste!